Pensando um Segundo...

... é lógico que gostaria muito de reverter muitos traços de autismo no meu filho, pois almejo sua felicidade e independência, mas não tenho mais aquela angústia abafada no peito, desesperada por uma cura como se ele fosse um brinquedo com estragos e que eu queria a todo custo consertar. Hoje sou muito Feliz com o SEGUNDO de hoje. Curto cada momento de alegria dele , cada palavra nova, cada pequena descoberta . Acho ele tão doce... ( e marrento também, às vezes). Pelas palavras, na maioria das vezes, faltarem, ele substitui muito por gestos ou puxando minha mão para pegar o que ele quer, mas amo quando ele assiste um comercial ou ver escrito e diz: Mais Você ou “caderão do uqi”, “jorná nacioná”, armazém papaíba ou ainda quando pergunto o nome dele, da irmã, do pai e o meu(é claro) e ele responde rapidinho. E o melhor é perguntar como ele está e ele dizer: “estou apaxonado”. Se ele tem consciência do que fala? Não sei.... Só sei que o amo por tudo que faz e por aquelas que não consegue fazer. Tento não perde nada... nadinha da vida dele, pois, na vida, ele é meu professor.

Enfim como diz Dalai Lama : '' a felicidade é saber curtir o caminho e não só almejar a chegada. "

Abraços

Vilma Candido



sexta-feira, fevereiro 26

10 motivos para a escola ser de todas as crianças juntas

Durante os últimos 400 anos, a escola foi sempre do mesmo jeito. Como assim? Após quatro séculos, a escola continua sendo um lugar que decide tudo: o que os alunos precisam estudar, como eles precisam comportar-se para conseguir aprender o que os professores ensinam, quais atividades os alunos devem realizar, como será avaliado o aprendizado para a escola saber quem aprendeu e quem não aprendeu. A fim de poder cumprir essas decisões, a escola sempre foi um lugar que somente aceitava a matrícula das crianças que supostamente tinham capacidade intelectual para aprender.

Este tipo de escola sempre acreditou que não poderia matricular crianças consideradas, por algum critério, incapazes de aprender como a maioria dos alunos. Professores que trabalhavam neste tipo de escola sempre acreditaram que não era obrigação deles ensinar crianças que não se encaixavam no perfil de alunos capazes intelectual, visual, auditiva e fisicamente.

A escola e a sociedade copiavam uma da outra esse modelo de valorizar os alunos capazes e excluir os alunos considerados incapazes.

Mas, felizmente, nos últimos 15 anos, o mundo começou a mudar radicalmente contra este tipo de escola e de sociedade. Um número cada vez maior de pais, educadores e outras pessoas sinceramente preocupadas com os direitos de todos os seres humanos defende uma escola que receba e ensine todos os tipos de criança. Uma escola que encoraje todas as crianças a aprenderem juntas, colaborando e cooperando mutuamente. Uma escola que discorde da prática de separar as crianças em capazes e incapazes. Uma escola que concorde que todas as crianças são capazes e que cada criança é capaz a seu modo. Uma escola que admite que cada criança aprende de um jeito só dela e, por isso, tem o direito de aprender do jeito dela. Uma escola que ensina o que as crianças querem e precisam aprender em função da situação de vida de cada criança.

Os profissionais da educação deram o nome de “educação inclusiva” a esta nova e revolucionária forma de ensino e aprendizagem. As escolas que adotam o modelo inclusivo chamam-se “escolas inclusivas”.

Hoje, em todo o território brasileiro – a exemplo do que ocorre em muitas partes do mundo -, existem pais e educadores preocupados em transformar as escolas comuns em escolas inclusivas a fim de que todas as crianças e todos os jovens e adultos, quaisquer que sejam suas características diferenciais, possam estudar juntos em um ambiente positivo, includente, acolhedor, estimulante, desafiador, interessante, eficiente e eficaz. Um ambiente onde todos conseguem aprender, estudar, crescer e desenvolver- se como pessoas por inteiro.

Existem muitos recursos que podem ajudar pais e educadores a encontrar inspiração, orientação e apoio para que todos os alunos – sem exceção - tenham sucesso na escola. Isto acontece porque já existe um imenso conjunto de documentos que relatam experiências bem-sucedidas em educação inclusiva.

Um desses recursos é um pequeno texto que fala em 10 razões para a educação ser inclusiva. Ele foi produzido pelo Centro de Estudos sobre Educação Inclusiva, da Grã-Bretanha. Vou apresentar a seguir uma adaptação que fiz desse texto. A educação inclusiva é um direito humano, é uma educação de qualidade e tem um bom senso social. Os 10 motivos para uma escola ser de todas as crianças podem ser agrupados nestes três aspectos: direito humano, educação de qualidade e senso social.

DIREITO HUMANO
1. Todas as crianças têm o direito de aprender juntas.
2. As crianças não devem ser desvalorizadas ou discriminadas por meio da exclusão ou rejeição com base em sua deficiência ou dificuldade de aprendizagem.
3. Adultos com deficiência, descrevendo a si mesmos como sobreviventes de escolas especiais, estão exigindo o fim da segregação.
4. Não existem razões legítimas para separar as crianças na vida educacional. As crianças se pertencem, com vantagens e benefícios para todas. Elas não precisam ser protegidas uma da outra.

EDUCAÇÃO DE QUALIDADE
5. As pesquisas mostram que as crianças aprendem melhor, acadêmica e socialmente, em ambientes inclusivos.
6. Não há ensino ou atenção em uma escola segregada que não possa ser oferecido em escolas comuns.
7. Com apoio e compromisso, a educação inclusiva constitui um melhor uso dos recursos educacionais.


SENSO SOCIAL
8. A segregação ensina as crianças a terem medo e serem ignorantes, além de fomentar o preconceito.
9. Todas as crianças precisam de uma educação que as ajude a desenvolver relacionamentos e as prepare para a vida na sociedade.
10. Somente a inclusão tem o potencial para reduzir o medo e construir amizade, respeito e compreensão.

quarta-feira, fevereiro 24

ESCOLA IDEAL, na perspectiva de uma mente autista.

Pessoal, creio que a maioria de vocês já ouviu falar de Donna Williams, uma autista que é autora de material importante na área dos TIDs. A partir de sua própria história e vivência, ela nos conta como se sente e o que faz (e fez) para viver dentro do autismo. Eu gosto muito de ler as coisas que ela escreve e essa semana comecei a trabalhar em um de seus livros, fazendo uma adaptação para leitura própria e capacitação de minha equipe. Achei um parágrafo fantástico, que gostaria de compartilhar com vocês.
Fala sobre a ESCOLA IDEAL, na perspectiva de uma mente autista.
Algo que todos nós deveriamos considerar. Ninguem melhor que eles para nos guiarem nas suas necessidades.

A ESCOLA IDEAL


" (...) Para mim, ambiente educacional ideal seria aquele onde a classe teria pouco eco e com luz suave, onde os móveis e tudo ao redor provocassem em mim uma organização cognitiva, onde as coisas garantissem a minha rotina e que não tivesse muitas mudanças, pois mudanças no ambiente provocam mudanças dentro de mim. A minha escola ideal seria aquela em que eu saberia onde eu deveria me sentar, o que eu deveria fazer, para onde iriam me levar e o que esperariam que eu fizesse. Deveria ser uma sala onde eu pudesse ver o que eu preciso e não ver o que é desnecessário, onde eu pudesse ser avisada sobre “novidades” e “surpresas”. A escola ideal deveria focar no meu jeito visual e especial de aprender, onde o professor ensinasse pelos objetos e pelos fatos e não por interpretações, apelos verbais ou vagas exigências de escrita ou leitura. Nesta sala, não deveriam existir pessoas correndo, falando ao mesmo tempo, mudando de expressões e gesticulando para mim. Meu professor ideal deveria falar baixo, usar roupas claras (de preferência um uniforme), mostrar a minha tarefa sem precisar ficar dando muitas ordens e que entendesse o meu estilo de aprendizagem. Assim, eu aprenderia melhor" (...)

Williams, D. (1996). Autism: An Inside-Out Approach.An Innovative Look at the 'Mechanics' of 'Autism' and its Developmental 'Cousins'. Jessica Kingsley Publishers.
Tradução de parágrafo do capítulo 18 (página 284)
Maria Elisa