Pensando um Segundo...

... é lógico que gostaria muito de reverter muitos traços de autismo no meu filho, pois almejo sua felicidade e independência, mas não tenho mais aquela angústia abafada no peito, desesperada por uma cura como se ele fosse um brinquedo com estragos e que eu queria a todo custo consertar. Hoje sou muito Feliz com o SEGUNDO de hoje. Curto cada momento de alegria dele , cada palavra nova, cada pequena descoberta . Acho ele tão doce... ( e marrento também, às vezes). Pelas palavras, na maioria das vezes, faltarem, ele substitui muito por gestos ou puxando minha mão para pegar o que ele quer, mas amo quando ele assiste um comercial ou ver escrito e diz: Mais Você ou “caderão do uqi”, “jorná nacioná”, armazém papaíba ou ainda quando pergunto o nome dele, da irmã, do pai e o meu(é claro) e ele responde rapidinho. E o melhor é perguntar como ele está e ele dizer: “estou apaxonado”. Se ele tem consciência do que fala? Não sei.... Só sei que o amo por tudo que faz e por aquelas que não consegue fazer. Tento não perde nada... nadinha da vida dele, pois, na vida, ele é meu professor.

Enfim como diz Dalai Lama : '' a felicidade é saber curtir o caminho e não só almejar a chegada. "

Abraços

Vilma Candido



sábado, agosto 22

Avestruzes nas escolas (Artigo)



Data: 22/08/2009
Veículo: O GLOBO
Editoria: OPINIÃO
Jornalista(s): LAIS MENDES PIMENTEL e PATRÍCIA RODRIGUES
Assunto principal: ENSINO SUPERIOR OUTROS

A gripe suína mexeu no calendário escolar, mas há um outro mal que afeta, de forma silenciosa e cruel, a formação dos brasileiros. Trata-se da síndrome do avestruz: aquela que faz com que o sistema educacional fique paralisado, fingindo que não é com ele. Estamos falando do despreparo de professores para a realidade da inclusão, nas escolas regulares, de alunos com necessidades especiais.
São inúmeros os casos em que fica evidenciada a inaptidão de professores e diretores de escola na hora de lidar com estudantes com alguma questão cognitiva. E a raiz deste descalabro é clara: os currículos universitários dos cursos de pedagogia não preparam futuros professores para a inclusão.
Há legislação que prevê que a matrícula dessas crianças seja feita preferencialmente na rede regular de ensino.
Mesmo assim, muitas escolas, particulares ou não, ainda negam o direito a tantas crianças de serem educadas como quaisquer outras. O argumento é tosco: elas dizem não estarem preparadas para lidar com as "diferenças".
Estudo recente mostrou a aberração forjada em salas de aula por conta do tal despreparo. A pesquisa Preconceito e Discriminação no Ambiente Escolar, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, mostra que 96,5% dos entrevistados (pais, alunos e profissionais de cerca de 500 escolas) têm preconceito contra portadores de necessidades especiais; 94,2% têm preconceito étnico-racial, 93,5% de gênero; 91% de geração; 87,5% socioeconômico; 87,3% com relação à orientação sexual e 75,95% têm preconceito territorial.
É fácil entender, afinal, as melhores universidades do Rio de Janeiro contam apenas com uma matéria obrigatória de Educação Especial.
Lidar com as diferenças virou então matéria de cursos de especialização, uma questão de opção. O futuro professor tem que, por conta própria, conhecer, por exemplo, educadores como Reuven Feuerstein e Vitor da Fonseca, que demonstram como promover o desenvolvimento máximo do potencial cognitivo, social e afetivo de pessoas que hoje são marginalizadas.
Professores avestruzes não enxergam a pluralidade do ser humano e escolhem colocar a cabeça debaixo da terra, fingindo que tudo está bem. Aumentam assim os casos dessa síndrome cruel, alimentados pelas escolas que os contratam e pelas universidades que os diplomam. A atualização do caduco currículo das faculdades de pedagogia seria uma vitória de todos em direção a uma educação de verdade.

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